18 de julho de 2010

O prazer delas ficou importante. Para eles.

Uma pesquisa sobre comportamento sexual masculino sugere que eles mudaram. Mas ainda mentem sobre seu desempenho.
Fernanda Colavitti

QUALIDADE
O empresário Evandro Gomes, em um shopping de São Paulo. Ele confirma: os homens já se importam menos com quantidade Para o empresário paulistano Evandro Gomes dos Santos, de 25 anos, satisfação sexual está ligada mais à qualidade da relação sexual do que à quantidade de parceiras. Para que uma transa seja boa, afirma, é fundamental que a mulher também fique satisfeita. “Não me importava com isso, mas, de tanto ouvir reclamações sobre homens egoístas na cama, percebi que precisava mudar.” O discurso de Evandro está afinado com o da maioria dos 3.026 homens ouvidos em uma pesquisa sobre comportamento sexual masculino realizada no mês passado em cinco capitais brasileiras pela Sociedade Brasileira de Urologia – em parceria com o laboratório Bayer Schering Pharma. Questionados sobre o que consideram mais importante em relação ao sexo, a qualidade da relação sexual e a satisfação da parceira ficaram, respectivamente, em segundo e terceiro lugares de uma lista com seis itens (leia o quadro). Em primeiro lugar, claro, ficou a própria satisfação.

Os especialistas dizem que o resultado desse levantamento aponta mudanças importantes no comportamento masculino. A sexóloga Carla Cecarello, que coordenou a pesquisa, diz que é nova essa preocupação com a satisfação da parceira. Mas que não se trata de altruísmo. “Se ele consegue satisfazer a mulher, isso contribuiu para reafirmar sua virilidade”, diz ela. Trata-se, também, de uma adaptação ao novo mercado sexual. Os especialistas são unânimes em apontar as exigências femininas como o principal motor da mudança na atitude dos homens. O sociólogo Dario Caldas, organizador do livro Homens – Comportamento, identidade, crise, vaidade, lembra que as transformações do papel feminino durante o século XX modificaram a relação das mulheres com seu corpo. Elas passaram a fazer sexo por prazer. E a exigir prazer. A experiência do cirurgião vascular Carlos Araújo, especialista em disfunção erétil, corrobora essa teoria. Ele diz que metade das consultas em seu consultório é marcada pelas parceiras dos pacientes, que acompanham de perto o tratamento. “As mulheres não se contentam mais em satisfazer o companheiro e ficar insatisfeitas”, diz ele.

Outra mudança de comportamento revelada pela pesquisa é a maior disposição masculina em discutir a própria vida sexual. Ao contrário das mulheres, os homens só falavam do assunto para contar vantagens. Agora, mais de 64% dos entrevistados dizem discutir abertamente sua intimidade. “Achei significativo tantos homens se dizerem dispostos a falar desse assunto com liberdade. Isso sinaliza que o tema está deixando de ser tabu”, afirma Dario Caldas. O sociólogo adverte, porém, que nem tudo o que os homens falam sobre sexo deve ser levado ao pé da letra. “Eles fantasiam”, afirma. Em outra palavra, mentem. A mentira mais comum é sobre a frequência das relações sexuais. “Eles dizem aquilo que acham que a sociedade espera deles”, afirma Caldas.

Esse tipo de atitude defensiva se insinua nos resultados da pesquisa: 61,7% dos entrevistados disseram transar de duas a quatro vezes por semana. E 31% acham que “o ideal” é transar mais de cinco vezes na semana. Exagero? Provavelmente. Numa pesquisa nacional realizada no ano passado pelo Instituto Datafolha, 23% dos entrevistados disseram não ter feito sexo entre janeiro e setembro de 2009...

O urologista Archimedes Nardozza Jr., presidente do braço paulista da Sociedade Brasileira de Urologia, descobriu outra informação dúbia. Mais de 81% dos entrevistados disseram nunca ter tido problemas de “disfunção erétil”. Mas os dados nacionais, segundo o médico, sugerem que metade da população masculina já teve dificuldade de ereção alguma vez na vida. “Isso eles não admitem nem para os médicos”, afirma Nardozza Jr.

Por que tamanha negação? É ainda o medo de parecer menos macho. A sexóloga Carla Cecarello diz que, para a maioria dos homens brasileiros, admitir alguma dificuldade relacionada à ereção ainda equivale a assumir que não é “homem o suficiente” – uma obsessão marcante entre os povos latinos. Carla diz que os americanos têm uma visão do prazer na qual homem e mulher são corresponsáveis pela satisfação na cama. Na cultura asiática – por comparação –, a responsabilidade recai sobre a mulher: ela tem a obrigação de satisfazer o parceiro. Para os latinos, porém, o homem é quem tem de se mostrar o tal. O paulistano Evandro concorda: “Temos de ser fortes e infalíveis. Quem sai dessas regras está fora do jogo”. E ele, já saiu alguma vez? “Se eu saísse, não teria problema em admitir.” A pesquisa sugere que a maioria não funciona assim.

Perguntas e respostas da pesquisa:

Frequencia sexual declarada:
Duas a quatro vezes por semana - 61,7%
Uma vez por semana - 19,43%
Cinco ou mais vezes por semana - 15,93%
Não responderam - 2,94%

Frequencia sexual desejada:
Duas a quatro vezes por semana - 59,09%
Cinco ou mais vezes por semana - 31,06%
Uma vez por semana - 7%
Não responderam - 2,85%

O que consideram importante:
A própria satisfação - 46,6%
Qualidade da relação sexual - 43,33%
Satisfação da parceira - 33,93%
Tempo de ereção - 20,52%
Quantidade de relações sexuais - 18,71%
Quantidade de parceiras - 13,49%

Com quem falam sobre sexo:
Amigos - 41,39%
Parceira - 31,09%
Médico - 9,36%
Família - 8,37%
Não falo sobre isso - 8,01%
Não responderam - 1,78%

Já tiveram problema de disfunção erétil:
Sim - 81,36%
Não - 13,22%
Não responderam - 5,42%

Satisfação com a vida sexual:
Satisfeitos - 86,95%
Insatisfeitos - 11,04%
Não responderam - 2,01%

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