4 de abril de 2009

Aumentar o pênis é possível, mas (muito) perigoso.

Pergunte a qualquer homem se está satisfeito com o próprio pênis. A chance de que ele diga não é de 90%, segundo médicos acostumados a ouvir lamentações. Além de alongar, a maioria gostaria de modificar a espessura de seu pênis. Quando isso era apenas uma fantasia, não havia problema. Ocorre que, recentemente, os homens passaram de fato a engrossar o pênis – com resultados frequentemente desastrosos, que vêm sendo percebidos nos consultórios médicos. O cirurgião vascular Carlos Araújo, de São Paulo, diz que tem atendido em média cinco pacientes por mês com problemas decorrentes desse procedimento. “Eles chegam com inflamações e deformações. O pênis fica igual a um saco de batatas”, diz o médico.
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O profissional liberal paulistano que prefere ser identificado como Sérgio, de 35 anos, é uma das vítimas dessa situação. Infeliz com a grossura de seu pênis, ele descobriu na internet, no ano passado, um médico que prometia aumentá-la. Pagou R$ 3.500 por uma aplicação de PMMA (polimetilmetacrilato, líquido usado em preenchimentos estéticos). Logo começou a sentir dores, ardência e dificuldade nas relações sexuais. Foi diagnosticado com uma séria inflamação, que pode acabar em cirurgia. “Eu me arrependo muito. Estou com problemas psicológicos e conjugais”, afirma.
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Do ponto de vista legal, esse tipo de procedimento não é irregular. O PMMA foi aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária como material para aumentar a espessura de pênis e de lábios vaginais. Apesar disso, a comunidade médica não recomenda essa utilização. “O PMMA é mais indicado em cirurgias reparadoras, normalmente no rosto. Para engrossar o pênis está fora de questão”, diz o cirurgião José Tariki, presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica. O Conselho Federal de Medicina concorda. “A técnica não é proibida, mas não aconselhamos. Carece de comprovação científica”, diz Antônio Gonçalves Pinheiro, da Câmara Técnica de Cirurgia Plástica. O aumento da espessura tampouco é recomendado pela Sociedade Brasileira de Urologia (SBU). “É uma técnica experimental. Já vi muitos pênis deformados”, diz Eduardo Bertero, chefe do Departamento de Andrologia da SBU. Ele tem atendido, em média, três pacientes por mês com problemas decorrentes do “preenchimento”.
Bertero diz que a maioria dos homens que procuram o procedimento são jovens com pênis normais. A média do brasileiro, ereto, é de 12 a 14 centímetros de comprimento e de 6 a 8 centímetros de perímetro. Depois do preenchimento, afirma, o pênis pode ficar disforme, com consistência meio gelatinosa e “absurdamente pesado”. Por que os homens embarcam nessa? “O pênis é um instrumento de poder. Os que têm tamanho acima da média divulgam, e os que têm tamanhos normais se acham anormais”, diz o urologista Celso Marzano. Com o PMMA, os homens costumam ganhar entre 5 e 8 centímetros no perímetro do pênis. “É um absurdo. Há pacientes que nem conseguem mais penetrar a própria mulher”, afirma Carlos Araújo.
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Apesar dos argumentos em contrário, há vários médicos que praticam o engrossamento de pênis – embora não gostem de falar sobre isso. Dos quatro procurados por ÉPOCA, apenas o cirurgião Bayard Fischer Santos, de Porto Alegre, concordou em dar entrevista. Ele é o personagem central de um site na internet com o nome de Vítimas do Dr. Bayard e Outros Operadores de Pênis. “Isso tudo é balela. A técnica é das mais seguras que existem. Já fiz em mais de 5 mil pacientes desde 1988”, afirma. Os homens que chegam ao consultório dele querem aumentar, em média, de 4 a 5 centímetros o perímetro do pênis. Bayard Santos diz que “pênis com menos de 13 centímetros de perímetro não preenche direito a vagina”. Mas, mesmo nos homens que atingem essa medida, ele faz o procedimento se o paciente desejar. “Se chegar a 14 ou 14,5 centímetros de perímetro, melhora a qualidade do ato”, ele afirma. Diz também que geralmente a mulher se posiciona contra, mas depois pede para o homem colocar mais. Sobre a quantidade de material injetada, ela é experimental. “Injeto o necessário para chegar à medida que a pessoa quer”, afirma. Bayard diz que cada 10 mililitros aumentam de 0,6 a 0,8 centímetro o perímetro. Então, conforme o que o paciente pede, ele vai injetando de 10 em 10 mililitros. Geralmente são duas aplicações. Bayard diz usar mais de uma substância, com diferentes resultados. “O PMMA é para os que querem nódulos no pênis, para um sexo diferenciado”, diz ele.
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Nos Estados Unidos, a técnica é condenada pela Associação Americana de Urologia como “insegura e ineficaz”. O neurourologista israelense Yoram Vardi, que fez duas revisões da literatura médica sobre engrossamento de pênis, chegou à mesma conclusão: “Não há nenhuma indicação para esse tipo de procedimento na literatura médica”.
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Indiferente à polêmica, o representante comercial paulistano Alexandre, de 32 anos, está satisfeito com as duas aplicações que fez em 2008 e que lhe custaram R$ 7 mil. “Eu faria tudo de novo”, diz ele. Alexandre procurou o médico porque achava que havia “algo de errado” com seu pênis. Bayard Santos o examinou, disse que suas medidas eram normais, mas que poderiam melhorar. Alexandre topou, fez o preenchimento e diz estar feliz. “É uma roleta-russa”, afirma o cirurgião Carlos Araújo. Vale a pena desafiar a sorte e pôr em risco uma das partes mais sensíveis da anatomia masculina? Isso depende de cada um. Mas a psicoterapeuta Fernanda Robert desaconselha. Ela diz que aumentar ou engrossar o pênis não muda o comportamento sexual dos homens: “Se a pessoa está infeliz com sua sexualidade, isso não vai mudar”.
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