26 de abril de 2008

Sem necessidade, jovens tomam remédio para ereção.

LEANDRO FORTINOLETICIA DE CASTRO, da Folha de S.Paulo .
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O jovem estudante de comunicação Evandro (nome fictício), 21, gosta de viver perigosamente. Sempre que cai na balada, mistura tudo o que vê pela frente: álcool, ecstasy e maconha. Há pouco tempo, depois de uma dessas noitadas, saiu acompanhado de duas pessoas. Era uma manhã de domingo. Ele parou numa farmácia, onde comprou uma caixa de um dos remédios para disfunção erétil que existem no mercado.
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Apesar de trazer em sua caixa uma tarja em vermelho chamativo na qual está escrito "Venda sob prescrição médica", nada foi pedido a Evandro, cara de moleque, que pagou cerca de R$ 60 por dois comprimidos. "Decidi tomar porque tinha usado um monte de drogas e, para fazer o pipi funcionar, resolvi experimentar. Minha ereção permaneceu por pelo menos quatro horas", conta. m
Casos como o de Evandro, por mais assustadores que pareçam ser, têm aumentado nos últimos anos, conforme alertam psiquiatras e urologistas. "Um jovem que toma um remédio para disfunção erétil que não foi estudado nessa população está correndo riscos de efeitos adversos. A minha orientação é sempre de que os jovens não utilizem, porque não sabemos os riscos possíveis", afirma o urologista Fernando Almeida, da Unifesp. "No Brasil, o problema acontece porque nós não temos controle. Essa medicação só poderia ser vendida com receita."
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Para a psiquiatra Carmita Abdo, coordenadora do ProSex (Projeto Sexualidade) do Hospital das Clínicas, o principal risco para o jovem é o de dependência psicológica da droga. "Ele pode acreditar que não terá uma ereção sem o remédio." A médica observa três perfis de jovens usuários:
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1) Indivíduos que gostam de experimentar tudo, inclusive drogas (como o Evandro).
2) Jovens competitivos que querem impressionar a parceira com a performance sexual.
3) Os inseguros e tímidos, com baixa auto-estima.
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"No fundo, os três precisam de um acompanhamento psicoterápico", afirma Abdo. Portanto, para jovens saudáveis, sem problemas de ereção, esse tipo de remédio não traz benefícios. O efeito é muito mais psicológico do que real. "Quando o indivíduo tem ereções normais, a melhora após a ingestão de Viagra se dá mais por efeito psicológico do que pela ação efetiva da droga", diz o urologista João Afif.
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O remédio é contra-indicado para quem sofre de doenças cardíacas. E muitos jovens não tem como saber isso, a menos que consultem um especialista. O jovem Marcelo se encaixa no perfil de quem usa para impressionar a parceira com uma heróica performance pós-balada. Carioca, tomou pela primeira vez no ano passado, por curiosidade. Ele ganhou metade de um comprimido de Viagra de um amigo. Hoje, toma "para dar conta de uma parceira diferente a cada dia da semana". Ele já leu a bula do remédio, sabe dos efeitos colaterais e não se preocupa com os riscos de dependência psicológica. "Não uso esse treco todo dia. É só para impressionar. Normalmente, nas duas ou três primeiras vezes com a menina."
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Uma das justificativas de Marcelo para tomar remédios para disfunção erétil quase todo fim de semana é a sua "vida sexual extremamente ativa". "Saio com várias mulheres. Conheço pessoas na noite que topam ir para o motel na hora." Por isso, ele não se preocupa em misturar o medicamento com álcool. "Normalmente, eu bebo cerveja quando saio. Se eu achar que devo, mesmo depois de beber, eu tomo."
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O uso do medicamento na balada, associado a altas doses de álcool de e outras drogas, como ecstasy e cocaína, também é comum e perigoso. "Há risco de interação medicamentosa, pois não se sabe exatamente a composição dessas drogas", diz a psiquiatra Sandra Scivoletto, chefe do Ambulatório de Adolescentes e Drogas da Fac. de Medicina da USP. Mas por trás de um garanhão como Marcelo se esconde um jovem tímido e inseguro. "O remédio dá uma segurança maior. Isso, de certa forma, mexe com a parceira, ela fica estimulada e quer você de novo. Aí começam as mentiras, né!?"
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NOSSA OPINIÃO:
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Os laboratórios farmacêuticos são empresas capitalistas e que precisam das doenças para vender as curas. Para os laboratórios, não interessa os motivos de quem compra os seus remédios, desde que comprem e cada vez mais. Algumas táticas são comumente usadas; a principal delas é publicar matérias em revistas e jornais, onde seus médicos, professores e palestrantes patrocinados divulgam estudos mostrando que o uso dos seus produtos garante a tranquilidade e a felicidade sexual dos seus usuários. Outra é patrocinar esses profissionais em congressos médicos para banalizarem o uso desses produtos, relatando benefícios quase sempre desnecessários e que desvirtuam a realidade dos fatos. Alguns trabalhos patrocinados já falam até mesmo no uso diário de medicamentos para ereção, seja para prevenir contra uma impotencia sexual, seja para tratar um prostatectomizado, seja para deixar os homens sempre prontos para ter uma ereção. Mais alguns anos se divulgará a idéia de que quem tiver uma ereção sem usar um medicamento, está doente e corre risco grave de saúde.
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