Publicada em 05/09/2008 às 11h24m
Maria Vianna - O Globo Online*
SÃO PAULO - Quando foi contratado por um grande laboratório há 27 anos, o farmacêutico inglês Peter Ellis não sonhava em ser uma das principais peças do que muitos especialistas em sexualidade chamam de "nova revolução sexual". Conhecido como o pai do Viagra por ter coordenado o estudo que descobriu a droga, Ellis se tornou uma espécie de consultor sexual de amigos, de desconhecidos e até de celebridades. Descoberto por acaso, o medicamento tinha sido elaborado para tratar de angina e hipertensão, mas passou a ser pesquisado para impotência quando pacientes envolvidos no estudo começaram a relatar, felizes, o inesperado efeito colateral. Em visita a São Paulo, Peter Ellis conversou com o GLOBO ONLINE sobre a droga que hoje chama de 'diamante azul'. Para os mais curiosos: sim, o farmacêutico já testou e aprovou sua criação. (Leia mais: Símbolo da geração de novos medicamentos contra impotência completa dez anos)
" Já fui abordado por celebridades em jantares sofisticados, por desconhecidos na rua, todos acreditando que eu tenho a resposta para todo tipo de problema de ereção. "
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O que mudou na sua vida depois desta descoberta?
Sinto muita satisfação e orgulho de ter feito parte da equipe que desenvolveu um medicamento que se tornou símbolo de toda uma transformação na forma como as pessoas encaram o sexo, e fico realmente muito feliz de ver quantos já foram beneficiados e estão mais satisfeitos sexualmente e psicologicamente por causa desta invenção. Só para se ter uma idéia, hoje seis compridos de Viagra são consumidos mundialmente a cada segundo. Um fato interessante foi que, quando comecei a pesquisar a droga para a disfunção erétil, descobri que muitos dos meus amigos sofriam do problema. Era algo que eu realmente não queria saber, mas que também foi fundamental para percebermos o quanto a droga era necessária. Já fui abordado por celebridades em jantares sofisticados, por desconhecidos na rua, todos acreditando que eu tenho a resposta para todo tipo de problema de ereção. E, claro, já recebi incontáveis agradecimentos de esposas satisfeitas e casais que redescobriram a vida a dois.
Quando vamos ver um medicamento deste tipo para mulheres?
Há anos que a comunidade cientifica trabalha para criar medicamentos eficazes que tratem as disfunções sexuais femininas, mas sem muito sucesso. O que sabemos é que não temos como criar um "Viagra feminino" ou uma droga que tenha mecanismo similar, temos que criar um remédio novo. A manifestação do desejo e da excitação nas mulheres é diferente da dos homens. As mulheres têm, de fato, um mecanismo sexual muito mais complicado que o masculino. Elas podem se excitar, ficar lubrificadas e nunca atingir o orgasmo. Para a ciência, isto ainda é um desafio. Todos sabem que o Viagra já foi testado em mulheres e não se mostrou eficaz. A droga de fato aumenta o fluxo sangüíneo na região genital delas, mas o efeito, em termos de aumento de prazer, é praticamente nulo. Mulheres que tomam o medicamento e que dizem sentir mais prazer experimentam, na verdade, um efeito placebo. Mas a ciência ainda está longe de desenvolver uma droga que facilite ou aumente orgasmos femininos.
A droga está sempre em fase de testes para outras doenças. Por quê?
O mecanismo do medicamento, que foi inicialmente criado com outro objetivo, age como relaxante do sistema vascular e também bloqueia a ação de uma molécula que está ligada a outras condições físicas. A droga foi testada com sucesso em mulheres que têm um tipo de infertilidade causada pelo afinamento da parede uterina, mas foi reprovada em experimentos com mulheres grávidas com eclâmpsia. Alguns distúrbios pulmonares e neuropáticos também já foram tratados com certo resultado. Porém, não é tão eficaz no tratamento da depressão, principalmente em mulheres. Na ciência testam de tudo, já misturaram Viagra com água para ver se as plantas duravam mais tempo no vaso! (Leia mais: Viagra pode melhorar a vida sexual de mulheres deprimidas)
Como vê o uso recreativo da droga, principalmente por jovens?
Dizer que homens mais novos não têm problemas de ereção é uma avaliação equivocada. A disfunção erétil atinge todas as faixas etárias, mas na juventude ela está mais associada a problemas psicológicos, falta de confiança e pressão por ter uma boa performance na cama. Ainda existe um preconceito em torno da disfunção erétil, principalmente na juventude. A impotência ainda é um tema pouco discutido e muitos médicos ainda têm dificuldade de abordar a questão. Sou totalmente contra a auto medicação, mas também acredito na segurança do produto e não acho que ele traga riscos para a saúde.
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